Na Meac, em 2012, 43 crianças foram abandonadas, aumento de seis vezes em relação ao ano anterior
Os
casos de abandono de bebês nas maternidades de Fortaleza vão além da
vontade das mães. Pelo menos é o que mostra o levantamento da
Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), onde, de 2011 para 2012, o
número de solicitações de acolhimento de recém-nascidos aumentou seis
vezes. Destes pedidos, 90% foram motivados pela dependência química das
genitoras.
Fora
a dependência química, os pedidos de acolhimento de recém-nascidos
também têm como origem mães com menos de 14 anos Foto: Kid Júnior
"Temos
43 casos de crianças encaminhadas para os conselhos tutelares, de
fevereiro de 2012 a fevereiro de 2013. A maioria por motivos de
dependência das mães. Dentro destes, sete são de abandono, também
motivados pelo vício, em média 90%", informou a assistente social da
Meac, Edilene Ribeiro.
Em 2011, era sete a quantidade de
solicitações desta natureza. Edilene explica que, naquela época, o
motivo maior também eram as drogas. Fora a dependência química, a
assistente social aponta como origem dos pedidos de acolhimento as
adolescentes que são mães antes dos 14 anos, casos de óbito materno e a
negligência.
"Não podemos desvincular a questão do abandono
destas crianças da situação social que a mulher vivencia. Muitas vezes,
ela abandona não porque quer. Percebemos, desde 2010, um número muito
grande de mulheres usuárias de drogas, identificação feita pela
abordagem do serviço social nas enfermarias", explica a assistente
social.
Audiência
A questão não se
restringe somente à Meac, pelo menos é o que foi percebido durante a
audiência pública, realizada ontem, na sede da Defensoria Pública Geral
do Estado (DPGE), para discutir a situação de recém-nascidos abandonados
por suas genitoras nas maternidades de Fortaleza e a consequente falta
de vagas em entidades acolhedoras da Capital.
Diversas
instituições que lidam direta e indiretamente com a problemática
estiveram presentes, e entre os encaminhamentos feitos, está na pauta do
Núcleo das Defensorias Públicas da Infância e Juventude (Nadij) a
implementação do Núcleo de Saúde Mental Gestacional.
Este órgão
realiza o trabalho com as gestantes, com o fim de que elas aguardem no
próprio hospital seus filhos receberem alta. O representante da
Secretaria de Saúde do Município se comprometeu a implantar o referido
serviço nos cinco hospitais que são de responsabilidade do município.
Outra
questão apontada, durante a reunião, foi com relação à morosidade nas
ações de destituição de poder familiar, que tardam o processo de adoção.
Por conta disso, caso seja necessário acolhimento institucional, que
essa medida dure o mínimo possível, no sentido de ingressar com ação de
destituição familiar garantindo uma tramitação célere do processo.
O
acompanhamento das gestantes com os profissionais responsáveis pelo
pré-natal, assim como a realização de um trabalho de reinserção
familiar, sendo impossível o reingresso ingressar imediatamente com da
Ação de Destituição do Poder Familiar, também foi um dos
encaminhamentos. A criação de mais equipes multidisciplinares com o
devido equipamento de apoio, para a realização das diligências de modo
mais célere, também foi apontada.
THAYS LAVORREPÓRTER
O QUE ELES PENSAM
Como você avalia o problema?
"Um
dos entraves para garantir que a criança conviva com uma família são as
ações judiciais que acompanham o acolhimento dela. É preciso que seja
feito um trabalho célere de reinserção dela na família biológica, mas,
se isso não for possível, que seja feito em um prazo razoável de seis
meses. Se for necessária ação de destituição de poder familiar, que esta
seja feita no prazo legal de 120 dias. Porém, este processo tem durado
uma média de dois anos, podendo chegar a três. Somente na 4ª Vara da
Infância e Juventude, temos uma média de 23 ações de destituição de
família"
Silvana FeitosaDefensora Pública da 4ª Vara da Infância e Juventude
"No
Conselho Tutelar da primeira região, recebemos, por semana, uma média
de dez denúncias de crianças que são abandonadas pelos mais diversos
motivos. Este mês sequer terminou e já somamos 60 denúncias, mas, por
falta de pessoal, não temos como atender a todas estas solicitações,
assim como não temos para onde encaminhar estas crianças, pois as casas
de acolhimento da Capital estão todas superlotadas. A situação clama
urgência e não é de hoje. Não é mais possível colocar três crianças num
colchão só como forma de achar vaga, queremos solução"
Magela OliveiraConselheiro tutelar
Fonte: www.diariodonordeste.com.br
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